Assim que foi escalado para encarnar o cafajeste Edgar em Caras & Bocas, Júlio Rocha se empolgou com a ideia de explorar mais a comédia. Isso porque, até então, contracenaria bastante com Ingrid Guimarães, que vive a atrapalhada Simone no folhetim. Mas a gravidez inesperada da atriz deixou no ar a dúvida de que rumo o personagem do ator seguiria na trama. O receio só acabou com a aproximação entre o vigarista e a vilã principal, Judith, de Deborah Evelyn. O que também trouxe destaque ao rapaz. De cara, fiquei meio ansioso e apreensivo. Afinal, a história do Edgar era ligada à da Simone. Mas essa reviravolta abriu ainda mais espaço para mim, vibra.
Encontrar o tom certo para não escorregar na vilania em cena não foi complicado para Júlio. Ele não chegou a ser um vilão em Duas Caras, quando interpretou o motorista sedutor João Batista, mas seu personagem estava sempre do lado dos mal-intencionados da história. A grande diferença é que ali eu interpretava um cara que era manipulado pelas mulheres. Dessa vez é o inverso: ele manipula, reflete. Mas graças à carga de humor que toda a novela carrega, Júlio não chega a sofrer retaliações femininas nas ruas. Geralmente elas falam rindo, se divertem com o que assistem, explica.
Trabalhar o universo cômico é algo que tem sido comum em sua rotina desde que as gravações de Duas Caras terminaram. O ator marcou presença em um dos episódios do seriado Casos e Acasos e garantiu vaga no saudoso Faça sua História, que Vladimir Brichta e Carla Marins protagonizaram no ano passado, vivendo o casal Oswaldir e Adalgisa. Na época, Júlio encarnava o taxista Jackson, um dos amigos de cooperativa do protagonista. Era um trabalho que eu adorava fazer. Acho a ideia do programa muito boa, mas não imagino que pensem em colocá-lo na grade de novo, analisa.
É exatamente por conta dessas duas escalações que Júlio não vê problemas em ter sua sensualidade explorada constantemente em suas aparições nos folhetins. Assim como João Batista, de Duas Caras, Edgar consegue progredir nas armações em Caras & Bocas seduzindo as mulheres. Acho que a sedução é um dos ingredientes que, casualmente, aparecem nos papéis. Mas não fica só em cima disso, defende. O que não aconteceu em Casos e Acasos e em Faça a Sua História. Não tenho contrato com a Globo, poderiam ter chamado outro ator que estivesse recebendo sem fazer nada. Se me escalaram para viver um nerd e um taxista, é porque confiam em mim, valoriza-se.
Trabalhar por obra não incomoda Júlio. Sempre de bom humor e com olhar otimista, o ator consegue ver inúmeras vantagens nessa condição. Nunca aconteceu de me oferecerem algo que eu não curtisse, mas eu poderia dizer não. E penso que de onde vieram as oportunidades que eu tive podem vir outras, minimiza ele, que já recusou ofertas da concorrência. Recebi dois convites bons, mas não queria me desligar da Globo. Não digo que nunca vou topar, mas meu foco hoje é continuar onde estou, avisa.
Mão única
Júlio Rocha até tentou seguir carreira no basquete. Mas desde que viu seu sonho desmoronar, concentrou todos os seus esforços para se tornar um bom ator. Tudo começou quando tinha apenas 16 anos e se matriculou na Escola de Artes Célia Helena, em São Paulo. Terminou o curso e, não satisfeito, decidiu fazer faculdade de Artes Cênicas. Só largou antes de concluir por conta dos compromissos em função do espetáculo Rei Lear, onde atuou ao lado daquele que chama de grande mestre, Raul Cortez. Eu até pensei em voltar, mas nunca consegui. Outras coisas foram acontecendo na minha vida, rememora ele, que foi afastado de um time infantojuvenil de basquete por ser considerado baixo. E olha que eu tenho 1,80 m de altura, exclama.
Depois disso, em 2004, Júlio chegou a morar seis meses nos Estados Unidos. Foi estudar interpretação, mas arrumou um emprego como garçom para se manter e praticar inglês. Foi uma experiência fantástica. Eu também era entregador. Em alguns dias, chegava a fazer 15 entregas por noite, lembra. Quando voltou, retomou seus contatos por aqui e não demorou a aparecerem oportunidades boas na tevê. Depois de uma rápida participação em A Diarista e outra, de alguns capítulos, em Bang Bang, Júlio foi escalado para entrar em Paraíso Tropical como o chef Wagner Alencar. Tudo aconteceu no tempo certo comigo até agora. Espero que daqui para frente seja assim também, torce.
Instantâneas
# Júlio fez curso técnico em Comunicação Social. Já usou o que aprendeu nas aulas divulgando seus espetáculos.
# Se não for escalado para outro papel logo após o final de Caras & Bocas, o ator pretende fazer cursos de interpretação, canto, dança e inglês nos Estados Unidos. Devo ficar uns dois meses fora, adianta.
# Júlio escreveu o texto A Prima de Susan Boyle e pretende montá-lo ainda este ano. A direção deve ser do próprio ator e Patrícia Vilela deve encarnar a personagem principal.
# Além de atuar na Globo, Júlio também fez aparições esporádicas no Mais Você, de Ana Maria Braga. Ele foi responsável por algumas reportagens para o programa.